Na escola, no entanto, essa prática é mais grave porque os alvos são seres em desenvolvimento e dão mais valor a julgamentos. "Somos suscetíveis ao olhar do outro e vamos formando nossa identidade em meio à interação social. O que penso de mim é influenciado pelo parecer das pessoas", argumenta Sonia. "Se, ao ser educada, uma criança recebe reflexos negativos, terá uma forte tendência a se pensar como alguém menos valioso."
O convívio em sala de aula pode ficar desequilibrado dependendo das atitudes dos professores. "Quando você critica publicamente um aluno e entrega de bandeja para a turma apelidos prontos, essa criança pode ficar estigmatizada e ser rejeitada", comenta Sonia Losito.
Há um estímulo, ainda que não intencional, à prática do bullying - todo tipo de agressão física ou psicológica que ocorre repetida e intencionalmente para ridicularizar, humilhar e intimidar as vítimas. "É impossível discutir ética na escola se o convívio é desrespeitoso. Como esperar que alguém se desenvolva num ambiente assim?", aponta Fátima Polesi Lukjanenko, especialista em Educação Moral e secretária de Educação do município de Itatiba.
Eliana Atihé reconhece que essa postura preconceituosa dá a falsa sensação de segurança tanto aos adultos como aos mais jovens. "Ao rotular, o professor muitas vezes está se defendendo dos alunos que representam uma ameaça por questionar sua autoridade, despertar sua insegurança, resistir a seu gesto formador. E é comum fazer isso sem dó nem piedade." Segundo ela, adultos alçados à condição de guias (e não apenas de transmissores de conteúdos) devem estar mais conscientes dos gatilhos que ativam esse mecanismo defensivo que empobrece as relações. E, por isso, precisam estar dispostos a compreendê-los e ultrapassá-los para tratar a todos com respeito.
A antropóloga Ana Luiza Rocha afirma que o estigma reforça também as estruturas de poder. "A maioria dos educadores usa juízos de valor para marcar seu lugar e mostrar às crianças que elas têm de ocupar outra posição." Ela cita um exemplo esclarecedor: "Quantos docentes chamam a família dos alunos de 'desestruturadas'? Pouquíssimos sabem que esse termo nem sequer existe na perspectiva sociológica".
Situações inadequadas também são rotineiras com alunos com deficiência. O mais corriqueiro nas escolas atualmente é o uso de diminutivos, como "mudinho" e "coitadinho". O consultor Romeu Kazumi Sassaki diz que "o tratamento deve ser de igual para igual, sem exageros ou atitudes paternalistas".
Outro problema é quando, em situações de aprendizagem, os estudantes são "estigmatizados por causa da deficiência", como destaca a neurolinguista Michelli Alessandra da Silva, da Unicamp. "Muitas vezes, os problemas que fazem parte do próprio processo de aquisição da escrita, por exemplo, são vistos como decorrentes de alguma patologia", aponta. Essa postura sugere que as crianças com deficiência são incapazes de acompanhar a turma regular, o que é um grande erro, como explica Maria Tereza Mantoan, também da Unicamp. "Todos os alunos são capazes de aprender segundo suas capacidades."
Quando os adjetivos estão relacionados à criminalidade, o desafio é igualmente espinhoso. A diretora Talma Suane, da EM República do Peru, no Rio de Janeiro, relata um processo de exclusão comum: unidades que, de forma velada, recusam a matrícula de alunos com histórico relacionado à violência.
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