A adolescência é uma fase importante no processo de consolidação da identidade pessoal, da identidade psicossocial e da identidade sexual. Erik Erikson diz-nos que o sentimento de identidade é o sentimento intrínseco de ser o mesmo ao longo da vida, atravessando mudanças pessoais e ocorrências diversas. Os adolescentes vão, através de uma crise potenciadora de energias, confrontar-se com esta problemática identitária (5ª idade - Identidade vs Difusão/Confusão).
É também com uma certa desorientação entre avanços, hesitações e recuos que se fazem importantes experimentações de afirmação do ego, na construção de identidade. Para além de uma certa confusão pela qual quase todos passam, existem por vezes situações (que também podem ser temporárias), como difusões/confusões agudas de identidade, adolescências retardadas e prolongadas, inibições, perturbação de valores, assim como podem ocorrer crises neuróticasu e psicóticasu caracterizadas por um isolamento psicossocial profundo e mecanismos defensivos. Cada um de nós constrói o seu eu através de "outros significativos", das interacções relacionais, reais e fantasiadas. A identidade constrói-se nas experiências vividas através de um subtil jogo de identificações. Se na infância os nossos modelos identificatórios são os pais, na adolescência vão ser os jovens da mesma idade. As relações com os pais têm que mudar para que os adolescentes possam ascender a ideias e afectos próprios. A amizade é muito investida ao nível dos afectos. O melhor amigo do mesmo sexo é normalmente alguém com quem se partilham grandes inquietações. É como um espelho estruturante onde o adolescente se reconhece reflectido, onde se vê crescer. O grupo de pares pode ter como função apresentar modelos de identificação positiva para o adolescente. Erikson refere a certeza que o grupo pode trazer às incertezas do adolescente. No entanto, pode apresentar alguns riscos negativos, sobretudo quando a relação com o grupo é de grande dependência. Numa época da vida em que se buscam outros universos para além dos familiares e em que as figuras parentais são tanto mais importantes quanto têm que ser reelaboradas as relações pais-filhos e com as quais há muitas vezes conflitos, existe a necessidade de outros adultos significativos. A escola, para além de um mundo de jovens, é também um mundo de adultos: os professores, os empregados, as personagens dos livros, os outros pais (de quem os colegas falam...). Nós olhamo-nos com os olhares que nos olham, com os olhares que trocamos. A construção da identidade passa por um processo de identificação e por um processo de diferenciação. Neste universo interactivo, numa cultura jovem, constroem-se certos estereótipos grupais e sociais. Os heróis têm, no processo de identificação de alguns adolescentes, um papel relevante, oferecendo imagens poderosas, cultivadas colectivamente. No final da adolescência o jovem obtém uma "identidade realizada", ele será capaz, como diz Erikson, de sentir uma "continuidade interna" e "uma continuidade do que ele significa para as outras pessoas". Ele entende-se no seu percurso de vida. Moratória psicossocial Outro dos conceitos eriksonianos importantes é o de moratória psicossocial. Esta moratória é "um compasso de espera nos compromissos adultos". É um período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação dos papéis, que vai permitir um trabalho de elaboração interna. Antecipa-se o futuro, exploram-se alternativas, experimenta-se, dá-se tempo... As moratórias são caracterizadas pelas necessidades pessoais, mas também por exigências socioculturais e institucionais. "Cada sociedade e cada cultura institucionalizam uma certa moratória para a maioria dos seus jovens." "As instituições sociais amparam o vigor e a distinção da identidade funcional nascente, oferecendo aos que ainda estão aprendendo e experimentando um certo status da aprendizagem uma moratória caracterizada por obrigações definitivas e competiçõessancionadas, assim como por uma tolerância especial."
0 comentários:
Postar um comentário